Um evento de informação, de conscientização e sobretudo de valorização da mulher. Assim foi a abertura da sétima edição da Semana da Justiça pela Paz em Casa, realizada nessa segunda-feira (6), na comarca de Goianinha. Promovida pelo Tribunal de Justiça do RN, por meio da Coordenadoria Estadual da Mulher em Situação de Violência Doméstica e Familiar (CE-Mulher), a Semana reuniu representantes de diversas instituições na Câmara Municipal de Goianinha para destacar a necessidade de combate ao machismo e à cultura da violência contra a mulher. Na Praça da Igreja, diversos serviços para a população feminina, com destaque para os ônibus da Justiça Itinerante, Delegacia Móvel da Polícia Civil e a Unidade Móvel de Acolhimento à Mulher, da Secretaria de Políticas Públicas para as Mulheres.
“O Judiciário sozinho, em seu papel repressivo, não combate a violência contra mulher. Precisamos de ações educativas de visibilidade”, afirmou o juiz Deyvis Marques, coordenador da CE-Mulher, ao iniciar os discursos. O magistrado lembrou que o Rio Grande do Norte encerrou o ano de 2016 entre os estados com maior número de feminicídios e que a violência doméstica atinge a todos.
“Não é preciso ser mulher para combater a violência contra a mulher. Basta se colocar no lugar do outro”, ressaltou. “Quem cometeu esses crimes? Não foi só uma pessoa que cometeu, mas cada um que se omitiu, cada um que propaga essa cultura machista. Cada uma dessas pessoas segurou na mão daquela que atirou, apunhalou ou esfaqueou uma mulher”, afirmou o juiz Deyvis Marques, que atua no Juizado da Violência Doméstica de Parnamirim.
O coordenador da CE-Mulher, juntamente com o presidente do Tribunal de Justiça, desembargador Expedito Ferreira de Souza, o prefeito de Goianinha Berg Lisboa e a secretária municipal de Ação Social Lucicleide Barros fizeram o descerramento da placa de inauguração da “Sala Lilás”, local que irá oferecer a mulher vítima de violência uma acolhida digna no momento em que ela busca os seus direitos. A unidade irá funcionar na Rua Basílio Ramalho, 270, Vila Helena, em Goianinha.
A delegada Ana Alexandria, da Delegacia da Mulher da zona Norte de Natal, também destacou a necessidade de se combater a cultura machista e patriarcal. Ela relatou ouvir homens na delegacia afirmarem que “não bati na minha mulher, mas no atrevimento dela” ou que “estou batendo na minha mulher, não na dos outros”. Para ela, tanto as ações de repressão quanto de prevenção precisam avançar e que é importante um trabalho de base, para que as crianças não naturalizem a violência e achem normal o homem agredir e a mulher ser agredida.
A titular da DEAM frisou que muitas relações são complexas porque a mulher não quer desfazer a família e termina voltando para o agressor, sofrendo ainda com estigma de que gosta de apanhar. “O agressor é justamente a pessoa que deveria protegê-la. Ela não quer deixar o agressor, mas sim que ele mude”. Segundo a delegada Ana Alexandria, as mulheres precisam de informação para romper esse ciclo de violência.
Para a advogada Andreia Nogueira, presidente da Associação Brasileira das Mulheres das Carreiras Jurídicas, o problema não é apenas de quem sofre a violência. “Eu nunca sofri violência doméstica, mas o problema é meu, de toda a sociedade”, disse. Para ela, “meter a colher não é vergonhoso, mas sim deixar a situação como está”. A presidente da ABMCJ no RN ressaltou que as pessoas devem abraçar causas não porque são vítimas, mas porque fazem parte de um todo. “Se não há violência na minha casa, ótimo. Está na hora de olhar então na casa do meu vizinho. Não pode haver violência contra a mulher na minha rua, no meu bairro, na minha cidade, no meu país”.
Para o promotor Sidarta John Batista, o primeiro passo para romper o ciclo vicioso da violência é uma mudança de mentalidade. “A mulher precisa ouvir e acreditar que não é normal ela sofrer, apanhar. Ela precisa reagir, pedir ajuda. A mulher precisa se impor, se amar. E se para isso precisar de ajuda, estaremos aqui para ajudar”.
Fonte: TJRN
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